domingo, novembro 09, 2008
As várias mortes
Dia desses conversava com minha irmã caçula sobre relacionamentos. Dizia que nos transformávamos a todo momento e que, se ela estava decidida a assumir um compromisso, a Clarisse descompromissada, sem elos com alguém em especial, teria que morrer. E eu disse aquilo não com amargura mas porque eu sei, mesmo ainda não tendo vivido bastante, que determinadas atitudes, pensamentos, hábitos, mudam com o tempo e não adianta lutarmos contra a foice do tempo e da mudança, porque é assim que tem que ser, e é assim que é.
Não sei de onde veio esse medo que assola a maioria das pessoas de ficar velho, de morrer, de não ser mais "baladeiro", da atitude simples e nada arrogante de saber abrir mão de certas coisas sem necessariamente ser covarde, mas saber aceitar os limites do corpo, do tempo e da mente.
Quando eu nasci eu morri. Deixei de ser considerada um feto e passei a recém-nascida. Depois virei bebê, criança, adolescente, adulta,e tudo o que foi deixado para trás morreu. Não que eu não possa mais brincar, ter sonhos, dançar e cantar. Mas eu sei que não preciso me apegar desesperadamente a essas atitudes para tentar me convencer de que estou viva e que tenho muito ainda pra viver.
Quando casei abri mão de me relacionar sexualmente com outros homens, isto porque de comum acordo, eu e meu marido não aceitamos outras pessoas no ralcionamento, então, nada de flertes e afins. Quando virei mãe, abri mão de determinadas prioridades que seriam importantes somente pra mim ou para minha vida de casal, e fiz isso para pensar primeiro no meu filho.
A Doraci solteira, sem filhos, sem compromisso com o trabalho morreu. Mas ela morreu legal, sem rancores, morreu no seu tempo. De vez em quando ela "baixa", trazendo alguma insegurança, um ataque de riso fora de hora, tirando um dia só pra ela e esquecendo um pouco do resto do mundo. Mas eu sei que deixar ela tomar conta de novo é ficar presa a um passado que não existe mais, é ser assombrada por um fantasma de alguém que já fui e que precisará ser exorcizado porque sua presença já não faz bem. Aceitar as mudanças, morrer para deixar que algo novo nasça, isto é parte do aprendizado de viver.
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